segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Conversamos Depois

Quantas vezes e sem nenhum por que o coração avisa quando não dá mais. É hora de esquecer?
Sinais não faltam: outro dia a camiseta especial que costumava usar em noites a dois, ao deixá-la de molho, percebi a cor desmanchada dentro d'água. Isso foi suficiente para voltar a pensar por que não conversamos.
Noite passada, me diverti longe de casa. E saí sozinho. Voltei da rua e, ao fechar a porta, tive a sensação de estar me trancando, como num aprisionamento. Não trouxe nenhum novo amor no pensamento, mas cheguei contente. Ria (contidamente), inclusive, ao seu lado sobre a cama e com cuidado para não acordá-lo. Enfrentar perguntas àquela hora, nem pensar. Deitei, puxei de volta, e devagar, a sobra do lençol que ele engolia com seus braços. Eu estava dividido e cada vez que eu me dividia, ele (de novo) ficava com a outra parte que sobrava de mim. E mais: com se já não bastasse o lençol, tinha a cama, tinha o beijo da manhã sem beijos, alguns atrasos pro café, as despedidas na porta e a vontade domorar fora de casa. Esquecer?
Hoje foi minha vez, ontem foi ele. E amanhã? Não saberemos quem de nós vai estar assim de novo.

sábado, 11 de agosto de 2007

Nem Sempre Prontos

Amores que Aparentemente se Vão: I
Às vezes Partir: II
Nem Sempe Prontos: Última Parte
Quando é tempo suficiente para a vida (ou pelo menos acreditando ter sido), temos por mito autenticar nossas razões por nos acreditar sábios. Descobrimos, por vezes, um outro dentro de nós, uma velha alma, estações que marcam para sempre, rastros de ruas vazias ao nosso olhar, colheita do que aprendemos ao viver.
Se com freqüência aumentamos o conhecimento sobre nossos nós, adicionamos complexidades que fragilizam as forças, mas aperfeiçoam o tino; por necessidade cada vez mais simples, pelo menos em regra. Somos tentados a reparar em outras direções (ou quem sabe segui-las), indagar sobre o destino que nos espera (do mesmo duvidar, hora ou outra), julgar e determinar nossas razões (e, quantas vezes, depois do mesmo instante, ver tudo mudar de repente). A qual metamorfose ainda seremos submetidos?
Absorvemos mais entendimentos sobre as regras que definem outras maneiras de existir e aceitar, outras formas de convívio. Admitimos, renunciamos e podemos nada saber (e viver bem do mesmo jeito, como muitos fazem).
Uma poesia confessa o enigma: quatro é o resultado de dois mais dois. Tão simples e eficiente? Quantas e quais fórmulas costumamos utilizar para o resultado de nossas somatórias?
Estamos prontos? Nem para melhor nem para pior. Estamos, no máximo, preparados para um susto e a mudar, quem sabe, de caminho.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Às Vezes Partir

Cruzamos, sem perceber, por alguns locais que parecem não ter sofrido alteração (já sentiu isto?). Às vezes é uma velha rua pela qual passamos todos os dias, mas que, de tanto atravessá-la, não a percebemos transformada. E desde o começo, quantas mudanças não ocorreram furtadas aos nossos olhos? Nesta mesma rua, casas se revelaram de outra cor, tiveram paredes derrubadas, viraram prédios espelhados e outras, não por menor importância, continuam simplesmente as mesmas.
Mudamos sem querer; mudamos querendo (em nome de outras arquiteturas...). Às vezes não sabemos que mudamos, que precisamos “transformar”. Cruzamos por aberturas conhecidas que se demonstram igual e intimamente incógnitas; Basta virar à direita (se de costume não o fazemos) para sentirmos a incerteza que o efeito de outras sensações pode provocar.
Já tentou mudar para sempre o caminho?
A velha rua agora é outra. Como não foi capaz de mudar sua própria direção - não por menor importância – transformou-se (partiu-se) aos olhos de quem não a viu mover-se devagar em acondicionamentos e cores.
Não nos transformamos em outro do nada. Não mudamos a arquitetura da alma sem a vibração de uma parede movida para outro lugar. Transformamo-nos sem que isto tenha que se revelar em foro íntimo e, sem perceber, nos vemos partindo. E, se a velha alma agora é outra é por que talvez não mudou de cor, somente de lugar.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Vazios

estruturar
reestruturar
tudo se põe no lugar?

vazio


l

i
n
e
a
r

corre denso
desce intenso

revaziar?
impossível estruturar

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Amores que Aparentmemente se Vão


De repente, na relação íntima com amor(es) que aparentemente se vão, nem precisamos fechar os olhos para perceber o tempo contando em reverso, em afetos (inconfessadamente, quase esquecidos) momentos que reafiguram-se vivos em cor, cheiro e dor.
Amores que aparentemente se vão esquentam lembranças, sentem cheiros de pele como se tivessem vida, possuem lugares como se fossem deles. Amores que aparentemente se vão despontam de presentes páginas de dedicatórias de livros, guardados nas lembranças das caixas fechadas. Amores que aparentemente se vão marcam lugares, pedidos, declarações, telefonemas, beijos em fila de caixa de supermercado, cinema...
Quando já escorreu pelos dedos, o tempo (imprevisto, insano, agora e distante) faz e refaz de si combinações de ir e vir. Entre instantes e anseios, envolvemo-nos sem querer, em reinvenções que revigoram momentos, sobrevoam mentes como se fossem aparições e não prosseguem até as outras estações. Marcam, por que, para sempre?
Jogando o jogo do desencontro desalojamos faltas, desejos e vontades de dentro do pensionato das ilusões. No rastro das trilhas que ficaram para trás, onde estão agora todos eles, ou unicamente aquele?